26 de fev. de 2009

Terra chamando Ogro

A vida está começando a voltar ao normal. A quarta-feira de cinzas de 2009 começou como começaram as dos 15 anos anteriores: Com uma ressaca monstruosa. A dor de cabeça era daquelas em que você dá uma topada com o dedão de propósito, só pra ver se uma dor faz você esquecer a outra. Além dos sintomas clássicos, pela ordem: A audição mais apurada, que faz com que um mero estalar de dedos pareça a decolagem de um 737; Um enjôo que faz você pensar que vai vomitar a si próprio e se virar do avesso; e o toque final, aquela estranha sensação de que você vive numa casa de cômodos giratórios.
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Um dia ainda vou receber um telefonema dos fabricantes do Engov querendo ser meus patrocinadores oficiais, num contrato vitalício, similar ao que a Nike tem com o Ronaldinho. E olha que eu só bebi Boemia, a única cerveja recomendada pelo meu novo cardiologista (O meu médico anterior, o doutor Piedade, mudou de consultório sem me deixar o novo endereço. Espero que eu não o tenha feito largar a profissão).
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O carnaval foi dos melhores. Quem me conhece sabe que eu sou muito mais de escola de samba do que de bloco. O público das escolas me é mais afim. Diferente do que se vê nos blocos (principalmente os da zona sul do Rio), o pessoal das escolas bebe porque aprecia o que está bebendo, e não para justificar as besteiras que vai fazer depois, como brigar ou dirigir brincando de fazer boliche humano. Além disso, quem vai para o samba arruma mulher, mas sem o desespero da playboyzada dos blocos, que só falta agredir as garotas para conseguir atenção.
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O carnaval foi quase perfeito. Ele começou na sexta-feira, com o desfile das escolas de samba mirins, na Sapucaí. As escolas mirins são como as divisões de base das escolas de samba, onde elas apresentam seus futuros passistas, ritmistas, intérpretes e casais de mestre-sala e porta-bandeira. Todos os integrantes são crianças e adolescentes, dos 5 aos 17 anos.
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O sábado foi do Cordão da Bola Preta, que desfila no Centro do Rio, e do desfile das Escolas de Samba do Grupo de Acesso A na Sapucaí, à noite. Infelizmente, ainda houve tempo para ir ao Maracanã na parte da tarde e ver o Flamengo ser eliminado pelo Resende na semifinal da Taça Guanabara. Como eu disse, o carnaval foi quase perfeito.
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Domingo e Segunda, foi a vez dos blocos clássicos do subúrbio do Rio de Janeiro. Eles são os nossos grandes celeiros de bambas, como O Boêmios de Irajá, o Bafo da Onça e o internacional Cacique de Ramos, que já nos deu feras como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e a rapaziada do Fundo de Quintal, entre outros.
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Já na Terça, fomos com as modestas, mas aguerridas, escolas de samba do terceiro grupo (o acesso B). A família inteira desfilou na Lins Imperial, onde temos grandes amigos. E, na quarta-feira, só restou superar a ressaca e ir trabalhar depois do meio-dia, com um olho no trabalho e outro na apuração, onde deu Salgueiro, merecidamente. Tristeza somente pela descida do Império Serrano. E eu ainda nem tinha superado o problema com o Flamengo no sábado.
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Em todas as atividades, eu pude contar com a companhia dos amigos e da patroa, que está sempre presente nessas atividades. Eu sei que ela também curte, mas ela também aproveita para dar uma discreta supervisionada no Ogro aqui, pensando que eu não percebo. Ainda me dei ao luxo de arrumar tempo para algumas atividades um pouco menos carnavalescas, como preparar alguns momentos românticos para a patroa, mas desses eu não preciso dar detalhes.
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No mais, é voltar para a realidade. Mas com o ingresso comprado para o desfile das campeãs.
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22 de fev. de 2009

Se beber, não atualize o blog

Como os amigos já perceberam, o Blog está sendo atualizado a passo de Rubinho Barrichelo. O motivo, como não podia deixar de ser, é o excesso de atividades lúdico-etílico-culturais de que o blogueiro ogro tem de participar nesses dias de folia.
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Mas, se eu sobreviver aos excessos carnavalescos (que obviamente estão sendo muitos, senão não seriam excessos), eu conto como foi.
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Nossa, no dia em que inventarem o fígado artificial, eu já vou comprar logo dois, pra levar na mala. O meu vai ter que ser de kevlar, titânio ou fibra de carbono. Enfim, algo bem resistente.

Chora cavaco!
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15 de fev. de 2009

A grama verde do vizinho

A grama do vizinho é sempre mais verde, já diz o ditado popular. E é o que eu confirmei essa semana, quando uma criatura que nunca deu a menor pelota para a minha pessoa quando eu era solteiro (mesmo diante do meu interesse) resolveu bater toda risonha à minha porta querendo me convidar para tomar um aperitivo na ausência da patroa.
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E o pior é que a criatura em questão, hoje casada, continua dando um tremendo caldo, contrariando o próprio passar do tempo. Sem falar no tanto de truques novos que ela pode ter aprendido nos últimos anos, o que deixa a grama do vizinho num verde de fazer inveja ao gramado do Maracanã.
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Eu não sei o que passa na cabeça de certas mulheres, talvez as muitas que visitam o meu pântano possam explicar. Eu já não estou mais esbelto e sarado como em outros tempos, pelo contrário, estou com menos cabelo e mais barriga. Rico, eu nunca fui. Donde se conclui que o grande afrodisíaco que moveu a senhora até o meu pântano é tão somente a aliança na minha mão esquerda. Sempre achei que isso era uma lenda urbana, mas é um fato. Há mulheres que nunca olharam pra você enquanto solteiro que começam a te dar mole quando você casa!
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O mais sinistro nessa estória é que elas parecem que têm alguma espécie de radar, sei lá, elas sempre batem à sua porta no exato momento em que a patroa deu alguma pisada na bola. Bem no dia em que ela te encheu os ouvidos com alguma reclamação desnecessária ou implicou com seu futebol-e-cerveja de domingo.
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Não tive como não lembrar daquela música das Pussycat Dolls, Don’t cha, aquela em que elas perguntam pro cara se ele não queria que a mina dele fosse gostosona, abusada e divertida como elas. Ainda mais que a madame veio com aquele papinho do tipo "eu sei que ela não está te tratando como você merece". Golpe baixíssimo.
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A essa tentação o Ogro aqui resistiu incólume, mas os casais podem fazer um esforço conjunto pra evitar problemas nessas situações. A gente vai resistindo firme e nossas patroas, por sua vez, procuram diminuir um pouco essas janelas de vulnerabilidade. E a grama do vizinho fica lá, ele que cuide de podá-la.
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Eu não conhecia as Pussycat Dolls, elas me foram apresentadas pelo
JB, na mais brilhante definição musical que eu já ouvi:
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_ Pussycat Dolls? Eu não conheço. O que elas cantam? Rap, Pop, Dance?
_ É um daqueles grupos de gostosonas piranhas que cantam mais ou menos, é uma mistura de Spicy Girls com Gaiola das Popozudas.
_ Ah, sei.
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Putz, já imaginou a premiação? Fulanas de tal, vencedoras do Grammy de Melhor Grupo de Gostosonas Piranhas que cantam mais ou menos. O Grammy já tem tanta categoria sem noção, mais uma, menos uma...
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10 de fev. de 2009

O trabalho que eu pedi a Deus

Essa foi uma terça-feira atípica. A começar pelo meu dia de trabalho que foi mais ou menos tranquilo, quando ele costuma ser infernal. Além disso, tive a felicidade de poder chegar cedo em casa, assistir ao “Samba na Gamboa” na TV Brasil, programa que eu adoro e, o mais incrível de tudo: A seleção do Dunga ganhou da Itália. E jogando bem! Deve ser alguma conjunção astral favorável.
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Mas é sobre o “Samba na Gamboa”, mais especificamente que eu quero falar. O programa é tão bom que eu me sinto na obrigação de fazer um comercial. O programa passa toda terça-feira na TV Brasil, às 20h. É apresentado por Diogo Nogueira e gravado num cenário absolutamente aconchegante, o Trapiche Gamboa (foto), belíssima casa de samba, no bairro da Gamboa, Zona Portuária do Rio.
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Não preciso dizer que é imperdível, pois traz entrevistas com sambistas históricos, que contam estórias e se apresentam sozinhos e em duetos, com direito a canjas do próprio apresentador. Pra quem não sabe Diogo é artista inspirado e de nobre linhagem do samba (ele é filho do imortal João Nogueira). Não dá para não assistir.
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Sobre o programa, eu só tenho um desabafo a fazer. Diogo Nogueira, ao longo do programa, recebe sambistas da melhor qualidade para cantar e conversar com eles, bebendo uma cerveja gelada, num cenário absolutamente sensacional, com acompanhamento de grandes músicos, diante de uma platéia feminina das mais animadas. Aí eu me pergunto:
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CARALHO, POR QUE EU NÃO TENHO UM EMPREGO ASSIM?!?!??!?!?
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5 de fev. de 2009

Parabéns do Ogro

Todo mundo que visita o pântano já conhece algumas das minhas preferências musicais, sendo o bom samba a maior de todas. Notem que eu me refiro ao samba mais raiz, mais tradicional. Aquele que vai de Noel ao Zeca, de Pixinguinha ao Fundo de Quintal, de Donga a Dudu Nobre e Diogo Nogueira. A tríade samba-cerveja-futebol é responsável por muitos momentos de alegria em meus trinta e poucos anos de ogrices bem vividas.
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Por outro lado, não tenho estômago para os falsos sambistas, aqueles pagodeiros mauricinhos, que cantam dores amorosas enquanto executam coreografias de gosto tão duvidoso quanto o figurino e o repertório. Grupelhos recém-saídos da adolescência, com músicas onde se ouve muito mais teclados do que cavaquinhos. Do Pique Novo ao Jeito Moleque, do Swing & Simpatia ao Sorriso Maroto, do Alexandre Pires ao Belo.
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Sou um grande apreciador do primeiro grupo, e tenho náuseas só de ouvir falar no segundo. Mas, pior do que ouvir os pagodeiros de araque é não saber distingui-los do samba propriamente dito, como muita gente faz. E eu sofro muito na mão de quem faz isso. Não é raro, numa loja de CDs, eu pegar da prateleira discos do Fundo de Quintal e do Jorge Aragão, perguntar o que mais a loja oferece e o vendedor me trazer um CD do Só Pra Contrariar (argh!).
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Por isso, eu quero aproveitar a ocasião e fazer uma declaração de amor a uma pessoa que aniversaria essa semana. Estou falando da Patrícia Migliani, ou simplesmente a Patty, atendente de uma das minhas lojas de CD preferidas. A Discoteca Harmonia, no Centro do Rio. A mulher que deve ter algum poder mutante, já que lê meus pensamentos e conhece meus gostos melhor do que eu mesmo.
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Meu amor pela Patty é notório e consentido pela patroa, que aliás, compartilha do mesmo sentimento. Afinal, só a Patty é capaz de me chamar quando eu passo lá do outro lado da calçada e desencavar, de algum canto obscuro da loja, uma raridade genial. Uma coletânea do Cartola, uma versão em CD remasterizada de um disco raríssimo do João Nogueira, ou algo do tipo. Quando eu passo por aquelas bandas e escuto aquela frase fatídica, “chegou uma coisa ontem que você vai adorar”, o mundo pára. Eu sei que vou sair da loja alguns reais mais pobre e alguns minutos atrasado para o meu próximo compromisso. Mas vou sair feliz, disso eu não tenho a menor dúvida
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O pior é que ela, além de saber tudo o que eu gosto e o que eu não gosto, também sabe o que eu tenho e o que eu não tenho. Não sei como, mas ela nunca me oferece nada repetido. Deve haver algum trabalho de espionagem, sei lá. Vai ver que alguém grampeou meu aparelho de som e tem cinco caras lá fora, dentro de uma van, ouvindo tudo o que eu ouço.
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Assim, vão os parabéns do Ogro para a Patty, que, por uma timidez boba, me proibiu de postar sua foto. O que é uma pena, pois a danada, além de todas as qualidades que eu enumerei, ainda encontra tempo para ser um pitéu. Não me venham com essa de que ninguém é perfeito. Ela é.
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