O Flamengo ganha do Vasco e o coração ganha do fígado
*
Não adianta. Tem horas que os meus ouvidos, mesmo criados a base de Noel Rosa e Pixinguinha, precisam de um pancadão. Por mais que muita gente não queira admitir, as pessoas gostam de funk mais do que elas imaginam. Temos que, forçosamente, reconhecer que poucos ritmos são tão apropriados para meter o pé na jaca quanto o bom e velho funk carioca.
Todo mundo aqui já deve ter presenciado a bagaceira que toma conta de qualquer festa de casamento ou de quinze anos quando, na alta madrugada, toda a birita consumida pelos convidados atinge o ápice da curva do gráfico e o DJ bota pra tocar um troço desses. Já vi muita noiva, madrinha e até mãe de noiva fazer semi-striptease em cima de mesa de festa ao som dessas coisas. Todo mundo já deve ter presenciado alguma performance bizarra nesse momento crucial da festa, em que a caipirinha sobe pra cabeça e o funk desce pro quadril. É foda. A ressaca subsequente costuma ficar ainda pior por causa das lembranças do ridículo.
O meu acervo pessoal de registros desse tipo ganhou um senhor acréscimo na tarde de ontem. Quando o Thiago Neves converteu o último pênalti, que deu o título estadual ao Flamengo eu assisti ao tosco espetáculo protagonizado por um grupo de marmanjos de meia-idade (alguns de idade inteira) que saiu a dançar o Bonde do Mengão sem freio entre as mesas do boteco onde eu assisti ao jogo. Adornado por fantasias rídiculas (como chapéus de urubu e perucas black power) e barrigas protuberantes, o grupo não quis saber de convenções sociais e ainda saiu a cantar e dançar pela calçada em frente, ganhando adesões enquanto evoluía.
É claro que, a essa hora, eu já tinha me juntado aos cachaceiros supracitados. Pena que a conta dessa alegria toda já chegou na manhã dessa segunda-feira, na forma de uma ressaca inimaginável. O pior é que eu nem posso procurar o meu médico. Afinal, ele era uma dos mais animados puxadores do bonde na tarde de ontem. deve estar pior do que eu. Ou melhor, nem sei.
*