5 de abr. de 2009

Em volta da mesa

Quando eu ainda era adolescente, caí na asneira de perguntar à minha mãe sobre como eu deveria me portar diante da família de alguma potencial namorada. Ela falou maravilhas sobre o quanto a família é importante na vida de uma pessoa, que você ganha uma nova família quando se casa, que eu deveria conquistar a família da candidata, e por aí vai.
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Não satisfeito, fiz a mesma pergunta ao meu pai, a pessoa a quem eu deveria ter perguntado desde o princípio. A resposta foi curta e grossa, na forma de um conselho que, em alguns momentos, eu me arrependo de não ter seguido:
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_ Namore uma órfã, de preferência filha única.
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Inevitável pensar no conselho paterno depois de hoje, quando eu acabo de chegar de um daqueles famigerados almoços de família. E vocês sabem: pior que almoço com a sua família, só almoço com a família da esposa.
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O script foi o mesmo dos mil almoços anteriores: A cada parente novo que chegava, os mesmo assuntos iam sendo repetidos, nessa ordem:
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a) Críticas às minhas escolhas profissionais, principalmente ao fato de eu ter abandonado o Direito para ser professor de História.
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b) Algum comentário enojado sobre as minhas convicções políticas. Aqui cabe um esclarecimento: A maioria dos homens da família da minha esposa é de militares da ativa ou militares aposentados, quase todos da Marinha. Para eles, quem é de esquerda deveria ser fuzilado, o Geisel era um Deus e o Golpe de 64 livrou o Brasil da ameaça dos malditos comunistas comedores de criancinhas.
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c) Uma irritante insistência para que eu coma de tudo, inclusive do que eu não gosto, até sair pelas orelhas, sem que ninguém se importe com o fato de que eu tenho um colesterol pornográfico de tão alto.
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d) Alguma piadinha idiota sobre desempenho do Flamengo, esteja ele bem ou mal. Pois é, a família ainda é esmagadoramente vascaína.
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e) E, pra fechar com chave de ouro, cobranças sobre o fato de eu minha mulher ainda não termos filhos. Como se algum dos parentes fosse bancar o estudo das crianças até a faculdade. O pior é que nem senso de humor eles têm. Até hoje repercute mal uma brincadeira que eu fiz sobre esse assunto. Foi num dia em que, já muito puto pelos comentários intrometidos (e com umas caipirinhas nas idéias), eu sugeri adotarmos uma adolescente do Camboja, amiga da Angelina Jolie. Eu me diverti pra cacete, mas o mal-estar se arrastou por muitas reuniões em família. E não se pode dizer que esteja totalmente cicatrizado.
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O fato é que eu sigo o ditado popular: Família é como cu, cada um com o seu. E, mesmo assim, ainda saem umas merdas de lá.
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A liberdade de escolha feminina
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Diálogo verídico presenciado pelo Ogro numa fila de cinema. Os personagens são um casal de namorados, aparentado algo entre 20 e 22 anos.
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_ Querida, qual filme que você quer ver?
_ Qualquer um, amor. Confio no bom gosto do meu namoradinho, o que você escolher tá bom.
_ É que, nesse horário, tem esses quatro filmes que a gente pode ver.
_ Não tem problema, pode escolher qualquer um.
_ Que tal esse primeiro aqui? Ouvi dizer que é muito bom.
_ Ah, esse não.
_ Tem esse outro aqui, com aquele ator que foi indicado ao Oscar.
_ Logo esse? É muito violento.
_ No mesmo horário tem esse outro, com aquela atriz que você gosta (o namorado já faz a proposta meio irritado).
_ Não sei, eu não senti nada demais quando eu vi a propaganda desse filme.
Já muito puto, o namorado conclui:
_ Então vamos ver esse último aqui, pelo jeito.
_ Ah, esse é perfeito
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E os dois se encaminham para a bilheteria, mas o namorado não se contém e, num gesto de puro masoquismo, pergunta:
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_ Você já queria ver esse filme desde o começo, por que não falou logo?
_ Ah, amor, eu queria que você escolhesse.
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21 comentários:

Cris Medeiros disse...

De tudo o que me parece pior é a cobrança de filhos... que coisa mais chata... as pessoas não tinham que se meter nisso, aliás elas não tinham que se meter em nada, mas nisso principalmente...

Beijos

Francisco disse...

Cara! Família é isso mesmo. E sempre tem um cunhado melhor que a gente, não é?
Há anos atrás, eu achava que família só servia pra tirar fotos no Natal. Agora, nem pra isso!
Teu pai, te deu um conselho de sábio.
Tinha uma música antiga, que dizia: "Feliz foi Adão, que não teve sogra!"
Abraços.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
[ Dk ] Mateus disse...

No meu último namoro minha sogra era evangélica, e acreditava que eu fosse a encarnação do Demônio por desvirtuar "a donzela"...

=s

"[...] as vezes sai merda de lá." (2009, OGRO)

disse...

Cara na boa, se eu falar: "o que vc escolher está bom" é pq vai ser o que vc escolher MESMO! Me irrita pessoas como essa namoradinha aí do post. Argh!
E olha, eu estava conversando com uma colega minha sobre justamente o fato de que quando casamos, não casamos somente com a pessoa e nem ela somente com vc. Se casa com a família de cada um tbm. Infelizmente ou felizmente.

Eu to bem ... não sou casada! rs

m.milena disse...

almoços com a família do namorados sempre são "estranhos", mas os meus, até agora, foram tranquilos.

e ei, esse negócio de "escolhe amor" é pura manhã nossa, no fundo a gente quer escolher mas quer parecer fofa e legal, kkkkkk. nao faço mais isso porque acaba sendo tudo menos fofa e legal, ne?

Arthur Rotta disse...

Hahhahaha,

Muito bons estes posts!

Servem no mínimo para demonstrar que o que falta em vaidade nos Ogros da vida, sobra em criatividade.

A propósito, admiro a escolha pela História, tive dilemas semelhantes no curso, mas por comodismo fiquei no direito...

Abraços!

Cruela Veneno da Silva disse...

então vc me convida pra beber mas não me poe na lista.

aff

Manuela disse...

Família boa, é família distante. Daquelas que no máximo rola um almoço em ocasiões festivas...mas se for uma família para falar mal do mengão...nem rola!! kkkkkkkkkkkkkkkk


Bjossssssssssssssssssssss!!!

Alessandra Castro disse...

Por essas e outras que soh vejo a minha toda reunida no Natal. Ou velorios.

Mulher Objeto disse...

Nossa, quando casei (com um cara que graças adeus tem família no sul do país), me divorciei da minha família. Amo muito eles, mas só vou lá quando eu quero e quando me dá na telha.

E não faço Marido ir sempre, por que acho que ele não merece tanta chatisse.

É foooooooda

Mauro Sérgio Farias disse...

Pode crer, a minha família é como a da Mary, só se reúne em velórios e casamentos.

Jean Baptiste disse...

Bem faço eu q moro sozinho em outro estado!

Menina de óculos disse...

Eu num tolero nenhum tipo de cobrança. Como se bastasse eu mesma querendo me boicotar a toda hora, ainda tenho que conviver com os outros querendo que eu faça isso ou aquilo...ah, não...Num dou conta!
Faça como eu, Ogro..eu evito reuniões familiares, apesar da minha mãe me chamar de mal educada sempre que pode...rsrss

bjss

Miss X disse...

Como disse para minha mãe hj, Deus inventou a família, o diabo veio e inventou os parentes...

Boa Páscoa Ogro!

Estava Perdida no Mar disse...

Nossa, os meus encontros de família são regados à:

E os namorados, Jaque? (Queria ver se eu dissesse "Ah, tá...meus três amantes estão ótimos", o q elas iam achar)

Em sequência: Não vai casar, não? (Putz, vou casar como se nem tenho namorado?...)

Depois: Ah, vc gosta é de ficar, né? Essa juventude ta perdida...rs.

Ai, la vem a minha vontade de botar chumbinho no almoço delas todas...

Priscila disse...

Ontem foi dia né!? rs

Aaah família... nessas horas agradeço a Deus por ser filha única! E se um dia eu casar, espero ter a sorte de ser com um filho único também!

Até!
=]

Lily disse...

Realmente... às vezes as pessoas dão sorte, mas acho q em geral, a família do outro é sempre um problema!!!
E a raiva maior é que eles NÃO SÃO da sua família e acham q podem e devem se intrometer na sua vida assim, né?

Enfim... um saco! Eu sei como é!

Bjks

Paulo Bono disse...

Pior são as piadas com o Flamengo.

abraço

Juliany Alencar disse...

Ogro, a família da sua mulher é muito mala, me desculpe! Claro que tem assuntos que sempre são inevitáveis em uma reunião familiar, mas querer que você coma de tudo e cobrar porque ainda não tiveram filhos?!?! Por favor! Da próxima vez, pergunta quem vai bancar a criança ou diz que você é infértil. Perguntas idiotas = tolerância zero.

Quando ao diálogo dos namorados, totalmente infantilóide! Esse daí vai enjoar dessa sem personalidade rapidinho.

Sâmia disse...

Ah, eu nem ligo.
Estou adorando ter sogra e cunhada: isso significa que (obrigada, meu Deus!) não estou mais encalhada!!!
Beijo, Ogro!