28 de nov. de 2009

Garçom, desce um conhaque e um porrete

Namorado em casa, só depois dos cinquenta anos, ouviu?
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Eu sou suspeito pra falar. Não tenho filhos (nem filhas), tampouco posso ser chamado de moralista ou conservador, não só pelas minhas conhecidas opiniões, quanto pelo meu passado, que me condena bastante. Mas, ainda assim, eu acho que certas coisas têm limite, e as novas gerações às vezes passam do ponto. Foi a conclusão a que eu cheguei diante do relato do Abreu, companheiro de muitas bebedeiras, que chegou com ar desolado no bar nesta sexta-feira. No lugar do chope habitual, ele pediu um conhaque. Para quem o conhece, era um sinal claro de que ele não estava num bom dia.
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Desolado, ele contou a desventura por que passou com a Marianinha, sua filha mais velha, que numa conversa franca e direta, lhe expôs suas intenções de dormir com o namorado em casa, dividindo quarto, cama e fluidos corporais. Pro Abreu e pra esposa, foi um choque. Ele, militar aposentado. Ela, coordenadora da Congregação Mariana da Igreja. Pelos perfis já deu pra sentir que foi muita modernidade de uma vez só.
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Mas ele não se deixou abater. Num esforço de tolerância e compreensão, o Abreu fez um genuíno esforço para aceitar que, hoje em dia, os tempos são outros. Que vivemos num ambiente democrático e sem tabus, no qual as mulheres estão conquistando a independência financeira e a liberdade para decidir sobre a própria vida e sobre o próprio corpo. Também pesou para a rendição do nosso amigo o argumento irrespondível da garota: “Você prefere que isso aconteça aqui ou na rua?
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Pois bem, chegou o grande dia. O garotão que já havia sido apresentado à família do Abreu numa ocasião anterior, instalou-se na casa do sogrão de armas e bagagens numa sexta-feira, a pretexto de dormir lá para ele e a namorada não perderem o horário do passeio que fariam no sábado.
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Depois de dormir mal a noite inteira, com algodão nos ouvidos para que nenhum som vindo do quarto ao lado ferisse seu instinto paterno superprotetor, o Abreu levantou cedo e foi pra cozinha fazer o café. Não achava justo que, depois de levantar cedo a semana inteira, a senhora Abreu ainda ficasse responsável pelo desjejum dos finais de semana. Ele já estava entretido com a vitamina e os ovos mexidos quando o pior aconteceu.
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A primeira estocada no coração do nosso companheiro de copo foi dada no momento em que o candidato a genro entrou na cozinha, com aquela expressão de quem fareja comida pronta. E pior, com um sorrisão enorme, de uma orelha a outra. Estava na cara, literalmente, que ele teve uma noite maravilhosa.
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Só aquele sorriso já seria capaz de deixar marcas psicológicas profundas no Abreu, papo de fazer análise e o cacete. Aquele sorriso falava por si só, aquele sorriso já dizia tudo. Infelizmente o desgraçado, o fiodaputa, o safardana, o meliante, o miserável do garotão achou que não. Ele realmente achou que tinha que dizer alguma coisa. Não sei se ele quis ser engraçado, quebrar o gelo, sei lá, mas ele acabou começando (e terminando) a conversa com essa pérola:
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_ Pô, vai ser legal mesmo tomar uma vitamina caprichada. Sua filha me deixou acabadão essa noite.
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Pelas informações que tivemos, o rapaz ainda sente algumas dores, mas já voltou a mastigar os alimentos normalmente. E o Abreu deve comparecer à delegacia ainda essa semana.
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18 comentários:

Cris Medeiros disse...

Olha! Vc já me conhece um pouquinho e sabe que não sou de me chocar com pouco... E tb não tenho filhos, o que dificulta demais dar uma opinião com base em experiências próprias...

Eu admirei o fato do pai ter superado as suas dificuldades e permitido tal coisa, mas esse rapaz é totalmente sem noção, mereceu um socão mesmo... ahaha...

Absolutamente tudo na vida é o jeito como se fala! Vc pode ofender uma pessoa e deixá-la completamente desarmada e pode ofendê-la com uma palavra e dar toda a chance dela revidar...

Bem... Mudando de assunto... Eu adoro te ler, adoro mesmo! Vc é aquele cara que quando vejo que tem post, corro aqui, porque sei que vou gostar... E mais ainda... Amo seus comentários no meu blog, sempre me faz pensar em um ponto que ficou esquecido...

Um dia marco aquela cerveja contigo, espero que daqui até lá vc não mude de idéia... eheheh... Não estou fazendo tipo, é que estou numa fase pessoal precisando resolver questões internas, quando me sentir livre delas será a hora de me abrir pro mundo... Por enquanto eu estou numa ostra, pra sair pérola depois... eheheh

Beijocas

Aninha disse...

Ogritos!
estava com saudades daqui!

É sério isso que vc relatou aqui? O moleque ainda teve coragem de chegar no Abreu e mandar essa?
Puta que pariu! mandava ele pro pronto socorro na hora!

Não estou preparada pra ter filhos MESMO. aff

besosss

Desabafando disse...

Putz...ninguém merece isso viu. Adorei a história pois essa semana contei no meu blog algo parecido, mas envolvendo o desconforto causado pelo meu irmào que trouxe a namorada pra casa.

just me disse...

É Ogro, tenho uma filha linda, não digo que não vá acontecer (mesmo por que já tive 14 anos também!), mas prefiro não compartilhar o mesmo teto no mesmo momento e saber depois! Rsrsrsrsrsrsrsrs.
Mas falando sério, tem que ser muito cara de pau para aprontar uma dessas, né não? Não sei quem é mais cara de pau, a filha ou o genro!

Atreyu disse...

KKKK tem gente pra tudo, mas acho que concordo com você Ò.ó
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É coragem e cara de pau mode: ON

Alberto Ferreira disse...

Pô achei legal o Abreu.
Venceu seus tabus e coisa e tal.
Dias desses, mesa de bar (também), rolou o mesmo papo.
Só que o nosso amigo, foi moderno demais.
A filha disse que queria dinheiro para ir a um motel e perder a virgindade.
O cara disse para vir para casa, ele sairia de casa e só retornaria no outro dia, ou caso ela ligasse.
- No motel se tu quiser parar vai ser difícil. Aqui em casa tu mete o pé na bunda do cara.
Mas a gota d'água foi ele explicando para ela que o cara tinha que ser carinhoso, e beijar e fazer isso e aquilo.
Os mais conservadores chegaram a levantar da mesa.

Tempos modernos...

Ana disse...

Cara, o genro tinha que cagar e sentar em cima né? rs
Até eu que defendo esse tipo de atitude acho que o cara foi mega infeliz.
Enfim, dormir com o namorado ok, mas com esse namorado não dá, rs

Menina de óculos disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Como não amar o seu blog e as suas histórias?!??!!??!

Bridget Jones disse...

Bem, pra ser sincera, eu não me lembro como cheguei ate aqui, mas adorei a surpresa!

Agora vamos falar do post? Vamos!

Ja ouvi muita coisa na vida e não sou dessas que se surpreende a toa, mas esse mocinho ganhou o prêmio, viu? Parabéns pra ele, que protagonizou a cena mais estúpida (no sentido "sem noção" de estupidez) e foi o autor da frase mais perigosa do ano!

Entre qlq dia pra dar uma lidinha lá no "Sou para-raio de doido"! Pelo jeito vc é bom de dar pitacos.

Um beijo

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Eu dei muito mais sorte que o Abreu, tive filho, mas tenho irmã e lembro que os namorados das mesmas não podiam dormir na minha casa por causa do senso BullDog que eu tinha quando mais novo, acho que meu pai deu sorte (Ou me condicionou criado como cão de guarda, ainda não descobri exatamente)...

Torço pelo Abreu, acho que todo pai tinha direito de descer a porrada no namorado da filha. Pelo menos uma vez, só pra desestressar.

Sâmia disse...

Ahahahahahaha!!!!!! Muito bom!

Jean Baptiste disse...

Respeito e mantém os dentes na boca...

Juliany Alencar disse...

Ogro, eu não tenho filhos, e também já andei pregando a libertação lá em casa há algum tempo. Mas confesso que, ainda assim, me choquei com esse relato. Putz, é muita cara de pau do cidadão!

Mesmo que o pai fosse moderno não gostaria de ouvir esse tipo de coisa! Só faltou sentar e contar detalhes da relação...

Sol! disse...

O Abreu se fudeu!

Desculpe, não contive a rima...
Sabe, vou me abster de fazer qualquer comentário sobre essa situação, pois o Theo não tem nem 3 meses e eu já fico pensando no dia em que ele vai chegar aqui com a namorada. mas o mais fodido mesmo é Little Big, que vai ter que agradar a mãe e a madrasta. Pobre rapaz

Catiaho Reflexod'Alma disse...

Puxa.. filho ou filha
não ha diferença
quando o fato esta
em nos permitirmos ver, entender
que eles cresceram. O que nos acontece é que ainda que modernos
demoramos a entender...
prosseguimos vida a dentro
tratando-os como meninos
e meninas de quem pensamos ter as vidas
nas mãos.
Mas quando crescem, se tornam adultos como nós, cada um tem suas responsabilidades, direitos.
E nós 'adultos' que
seguirmos equivocados
vamos sofrer dobrado
na hora da verdade.
O que nos cabe é perceber a hora
e definir junto com os filhos como
vamos seguir.
Porém é fato que isso deve acontecer
antes que eles mesmo
nos ponham contra a parede.
Pois a inversão de valores
bate a porta aos socos.

Adoro vir aqui, so ler e ler.

Passa la no blog, tem um conto la.

Bjins entre sonhos e delírios

Monique Lôbo disse...

Ogro amigo, sou solidaria ao Abreu, pobre Abreu. Fico tentando imaginar, por mais dificil que seja pra mim, um pai ter que saber que a sua filhinha esta se transformando em uma "mulher", afinal ele ja esteve do outro lado da historia, mas mesmo assim deve ser pior ainda ter que dividir o teto com os pombinhos e tal. E ainda mais, sendo um genro sem noçao como esse, por isso eu compreendo o Abreu, e até apoio a sua atitude.
Fala serio, neh, o carinha pediu uns sacutiripapos!!
O Abreu super despreendido, liberou a casa, e tudo mais e o carinha me apronta uma dessas, mereceu, ele mereceu!!!

Bjaoo

Maris Morgenstern disse...

meu ogro favorito
obrigada
eu ri mto
mas pense, podia ser mto pior
ele podia ter entrado só de cueca
nao sei porque
mas pais costumam odiar mais a cena de ver o candidato a genro de cueca do que ouvir q a filha lhe deu uma canseira

Mauro Sérgio Farias disse...

Se é no Norte, esse aí já tinha sido passado na peixeira.