23 de mai. de 2009

Pequenas e grandes batalhas

Dilema clássico da relação. Se você é homem casado, noivo, namorado, companheiro ou tem qualquer forma de relacionamento estável com uma mulher já passou por esse dilema típico dos casais em momentos de lazer. Filme Ogro ou filme mulherzinha?
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Vocês vão entender o que estou dizendo diante da situação prática: Domingão. Você acordou tarde, deu uma bela trepada matinal, e depois de malhar o páuceps, tomou aquele puta café da manhã, típico de hotel fazenda, com bolo, ovo mexido e tudo mais. Leu o jornal, viu todos os programas de esporte possíveis e imagináveis durante toda a manhã. No almoço, comeu como um Ogro e tirou uma sesta pesada, só acordando para ver o futebol acompanhado da cerveja de praxe.
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Na etapa seguinte é que começa o problema. A continuação lógica da programação dominical seria um filme, mas não qualquer filme. Eu não sei bem definir o meu gênero preferido, alguns chamam de épico. Eu acho o termo meio inadequado, na medida em que este se refere a sagas heróicas em geral. O meu gosto é mais específico. Pra resumir, eu gosto daqueles filmes com mega batalhas campais, onde, depois de um discurso motivacional dos seus líderes, os dois exércitos erguem espadas, gritam (o grito é importante, sem ele não teria a mesma graça) e correm a se estripar. O sangue jorra, a cerveja desce e o cérebro fica descansando em cima da estante, depois de ter trabalhado muito a semana toda.
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Vocês sabem como é, filmes como Coração Valente, Gladiador, A Cruzada, Tróia ou 300, embora a este último eu faça ressalvas pela forte mensagem GLS subliminar. Nada contra, este é um blog sem preconceitos, mas ela prejudica a própria coerência histórica do filme. Por mais que os gregos prezassem a beleza física, não dá pra engolir que qualquer exército vá para uma batalha travada com armas perfuro-cortantes trajando uma sunga e uma capa. No contexto do filme, uma armadura seria tão necessária quanto água, comida ou espadas e escudos.
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De qualquer forma, o filme épico é o desfecho perfeito do Domingão etílico-futebolístico. Ou seria, se sua cara-metade não estivesse a fim de ver Divã, Ele não está tão afim de você, ou qualquer outra melosidade do gênero. Afinal, a coisa mais chata do mundo depois de discutir a relação é ver filmes com pessoas discutindo suas relações.
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Não preciso dizer que você não vai discutir, com mulher não se discute. A gente nunca ganha, mesmo. Você pode tentar negociar, adiar, fingir doença ou, se tudo mais falhar, apelar para os subornos de praxe, como flores ou jóias. O que, em algumas vezes, não vai adiantar. E convenhamos, se você garantiu as primeiras etapas do domingo (mencionadas no segundo parágrafo) você pode ceder em relação ao filme de vez em quando.
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16 de mai. de 2009

Bobagens da semana

Bizarro. Mesmo com o monte de besteiras que toma os jornais, não há dúvida de que essa campanha do Xixi no Banho, promovida pelo pessoal do SOS Mata Atlântica é uma forte concorrente ao título de maior bobagem das últimas semanas. Vocês já devem ter ouvido falar, é uma campanha ecológica que incentiva as pessoas a mijar (quem faz xixi é mulher ou criança) durante o banho, de maneira a usar menos a descarga e economizar a água doce do planeta.
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O negócio já começa estapafúrdio, na medida em que condiciona uma necessidade fisiológica a uma necessidade social. Eu posso não estar com vontade de mijar durante os meus dois banhos diários, um quando eu saio de casa pela manhã, e outro à noite, quando eu chego. E, mesmo que eu esteja em casa, os dois atos podem não coincidir. A não ser que eu resolva tomar banho cada vez que eu tiver vontade de mijar, o que pode acabar com a água do planeta numa única tarde de cervejada.
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O pior é que, numa hipótese muito otimista, o sujeito que levar a campanha a ferro e a fogo não vai economizar mais do que uma descarga ao dia. Muitas pessoas já mijam no banho naturalmente, o que torna a campanha inútil e com resultados potencialmente desprezíveis. Deve ter alguém nessas ONGs precisando muito justificar algum dinheiro de patrocínio, não tem outra explicação.
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O mais escroto é que os caras que tiveram essa idéia genial poderiam evitar um grande consumo de energia elétrica e muitos danos à natureza se fizessem algumas simples alterações no site da campanha. Como o bicho é repleto de animações e efeitos sonoros, ele é pesadíssimo, levando um tempo maior para abrir e fazendo o internauta gastar mais luz. Tudo isso para conseguir um ganho estético pra lá de duvidoso, com animações protagonizadas por simpáticas gotinhas de urina saltitantes. Ridículo.
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Ao que parece, o lema da campanha é xixi no banho e cocô nos meios de comunicação.
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Ao escrever esse anti-manifesto contra essa campanha ridícula, eu pude perceber uma outra coisa igualmente ridícula (e igualmente inútil): Vocês já repararam nos acessos de moralismo do Word 2007?
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Explico melhor. Vocês já sabem que o Word tem algumas funções de correção. Quando a ortografia da palavra está errada, ela aparece sublinhada em vermelho e quando há algum erro na estrutura da frase, como um erro de concordância, ele aparece sublinhado em verde. Nos dois casos, o programa oferece sugestões de correção para que você faça a substituição pela forma correta da palavra ou da expressão. Até aí, nenhuma novidade.
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O ridículo aparece em determinadas expressões que poderiam ser consideradas como agressivas, ou de baixo calão. Se você escrever a palavra “mijar”, por exemplo, ela vai aparecer sublinhada em verde, como se estivesse errada. Ao acessar as sugestões de correção, você vai encontrar o verbo “urinar”. O mais engraçado é se você tentar usar o verbo trepar, cuja substituição sugerida é “ter relações sexuais”.
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Santa babaquice, será que não viram que, apesar de sinônimas, essas expressões serão usadas em contextos absolutamente diferentes e quase nunca intercambiáveis? O fato é que ainda se gasta muito tempo, papel e memória de computador com bobagem.
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E pensar que todos esses recursos humanos e materiais poderiam ser usados para alguma causa nobre como encontrar a cura pro câncer, acabar com o analfabetismo ou ensinar os atacantes do Flamengo a chutar em gol.
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10 de mai. de 2009

A adorável esposa abduzida, ou "os dias sobre os quais não falamos"

O ânimo pra escrever nessas horas é quase nenhum, mas serve pelo menos como desabafo. Digo isso porque minha adorável esposa foi abduzida. Essa situação não é nova. Uma vez por mês, minha esposa simpática, adorável e bem-humorada é abduzida, levada para alguma galáxia distante, onde permanece durante uns quatro dias mais ou menos. Em seu lugar, fica um monstro choramingão, carrancudo e mal-humorado, que reclama de tudo o que eu fizer, inclusive se eu não fizer nada.
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Por essas e outras é que as pessoas nem gostam de dizer o nome dessa situação, referindo-se vagamente a esse período como “aqueles dias”. É como aquele filme do M. Night Shyalaman (sei lá como escreve essa porra), A Vila. O período da menstruação é aquele intervalo de dias “sobre os quais não falamos”.
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A minha opinião sobre o assunto é polêmica, e eu não sou louco de torná-la pública num recinto cheio de mulheres pra não tomar porrada. Mas eu tenho que admitir que, por mais que eu não conheça a sensação física, sempre tive a impressão de que muitas mulheres usam o incômodo natural de todo esse período como salvo-conduto para todo o tipo de grosseria, aporrinhação ou chantagem emocional.
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Num esforço para me pôr no lugar das mulheres, fico tentando me imaginar com um puta incômodo físico. Sei lá, uma diarréia incessante somada a uma crise de rins e uma ressaca, no dia seguinte a uma derrota do Flamengo, por exemplo. Ainda assim, eu não vou poder dizer tudo o que eu penso de alguns parentes malas, nem mandar meu chefe ir pastar, por mais que ele mereça. Vou ter que me esforçar para ser minimamente agradável e sorridente, mesmo convivendo com um montão de gente que eu tenho vontade de cobrir de porrada.
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Acho que não estou fazendo nenhuma reivindicação absurda quando peço que as mulheres visitantes tentem moderar a fúria tão comum nesse período. Afinal, pode ser muito difícil passar por isso. Mas conviver com quem passa por isso também é foda.
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Feliz dia das Mães!
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E o Ogro Online aproveita para deixar um abraço para essa santa criatura cujo dia celebramos nesse domingo. A pessoa capaz de relevar toda e qualquer merda que você fez, está fazendo ou ainda vai fazer. A santa mulher que riu de suas bolhas de cuspe e comemorou os primeiros monossílabos sem sentido que você proferiu como quem ganha um campeonato. A única mortal que te achou bonito desde o nascimento, mesmo quando você ainda era uma massa disforme de dois quilos, careca, banguela e analfabeta, que só sabia cagar e chorar.

Um abraço para todas as mães, principalmente aquelas que são muito lembradas pelo Brasil afora, como as dos árbitros de futebol e as de alguns economistas.

Beijo pra minha mãe e pras mães de todos vocês.

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2 de mai. de 2009

Futebol com cerveja: A gente não vê por aqui

Vai aproveitando, qualquer dia vão proibir mulher nos estádios também!
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Ao contrário do que canta o Neguinho da Beija-Flor, domingo eu não vou ao Maracanã. Vou torcer pro time que sou fã, mas não vou levar foguetes nem bandeiras, mesmo sabendo que não vai ser de brincadeira e que ele vai ser campeão. O pior é que quem me tirou dos gramados não foi nenhum marcador implacável, muito menos aquela lenga-lenga sobre a violência no entorno do Maraca, muito menor do que as notícias exageradas da imprensa.
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O grande responsável pela minha não-ida ao maior do mundo é o mauricinho que ora ocupa a prefeitura da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, o peemedebista Eduardo Paes. Paes, com o seu demagógico choque de ordem (entenda-se sumir com os pobres!), retirou todos os camelôs das redondezas do Maracanã sob pretexto de manter a limpeza e a segurança nos arredores do estádio.
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No discurso, muito bonito. A merda toda é que dentro do Maracanã não há uma comida decente e só se vende bebidas não alcoólicas. Você só pode beber água, refrigerante e cerveja sem álcool e a opção de alimento com mais potencial para enganar o estômago é um cachorro-quente superfaturado que, no pior estilo americano, tem pão e salsicha como ingredientes únicos.
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A baixa qualidade da alimentação disponível no Maraca sempre foi compensada pela grande e variada oferta de baixa gastronomia em volta do estádio. Principalmente os cachorros-quentes, que eram verdadeiras refeições, e os churrasquinhos que ajudavam a tapear o estômago. Eu que, costumava chegar ao estádio com três ou quatro horas de antecedência, fatalmente passava minha hora do almoço em frente ao Bellini, safando-me com as barraquinhas. Graças ao tal Choque de Ordem, isso não me pertence mais.
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Mas o pior de tudo se refere ao produto que é o acompanhante por excelência de um bom futebol. Refiro-me à boa e velha cerveja, cuja venda é proibida no Maracanã e até mesmo nos bares em volta nas duas horas anteriores ao jogo. A estapafúrdia alegação das otoridades é que essa medida visa coibir a violência nos dias de jogo. Sei. Deve ser por causa dessa proibição que o Rio de Janeiro é uma cidade tão pacífica e tranqüila.
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Eu sempre fui um severo crítico de qualquer tipo de lei seca como medida anti-violência. Tenho a firme convicção de que quem gosta de procurar briga irá fazê-lo bêbado ou sóbrio, de nada adiantando que algum prefeito sacripanta me prive do que seria um prazer pequeno, porém merecido, depois de uma semana de trabalho duro.
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Não se preocupem, a torcida do Flamengo é enorme, o Ogro aqui não vai fazer falta. Tudo o que me resta é aturar o futebol na Globo. Felizmente, o Galvão Bueno não transmite os Estaduais. Se, depois de tudo, eu ainda tivesse que aturar o Galvão, eu parava até de beber.
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