3 de abr. de 2010

Império da fofoca

É, cumpádi, partiu bonde boladão da Chatuba
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Não, este não é um post exatamente sobre futebol, embora este blog, entre outras coisas, também seja pra falar disso. Estamos realmente falando dos dois sujeitos aí da foto, que, por uma mera coincidência, ganham a vida como jogadores profissionais de futebol. Mas poderíamos estar falando de vocês. Ou de mim.
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Querendo ou não, por mais que você preserve alguns aspectos da sua privacidade, quem tem um blog se mostra de um jeito ou de outro. Seja na sua forma de pensar, ou mesmo em algum aspecto cotidiano da sua vida sobre o qual você acaba comentando, conscientemente ou não. Quem visita esse meu cafofo virtual com frequência sabe mais sobre a minha vida do que algumas pessoas com quem eu convivo. Sabe o básico, pelo menos, de onde eu vim e a localidade em que vivo. Conhece alguns dos meus gostos e das minhas convicções. E é desses aspectos que surgem algumas pequenas semelhanças com a vida dos fotografados no topo da página.
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Pobre, mestiço, nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro, fã duma bola no campinho de terra, da cerveja e de uma roda de samba (e, na adolescência, de funk). Além do Flamengo, é claro, time para o qual torcemos eu e eles, com o óbvio diferencial de que eles trabalham lá. Tirando-se a abissal diferença entre nossos contracheques, eu me identifico com os caras.
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Por conta dessa identificação, eu imagino o quanto deve ser foda você não poder ir ali na esquina sem surgir um monte de fotógrafos e cinegrafistas, profissionais ou não, em busca de qualquer coisa que te possa causar algum tipo de constrangimento só pra vender mais jornal. Tentem, por um segundo que seja, imaginar como é não poder nem jogar uma conversa pra cima duma menininha mais jeitosa que a gente encontra no bar sem que isso vá parar na primeira página de todos os jornais do dia seguinte. Desde as mulheres que você conhece na balada até o número de pontos que você perdeu na carteira de motorista, tudo está lá, pendurado na lateral da banca de jornal exposto ao escrutínio público.
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Pra nós, é muito fácil falar que os caras têm que resguardar a sua imagem, que não podem ficar frequentando bailes funk frequentados por caras armados dentro de uma favela a altas horas da madrugada. Só tem um problema: O que nós chamamos de favela braba e perigosa, que deve ser evitada, é o que eles chamam de lar. É lá que eles foram criados, é lá que eles conhecem todo mundo, é lá que eles têm amigos, parentes, namoradas e lembranças da sua infância.
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Eu fui criado ali pelos lados de Madureira. Joguei bola no Brasil Novo e no Fígado de Aço, frequentei os blocos de carnaval, desfilei na Portela e no Império Serrano e sempre comprei no Mercadão de Madureira os doces que distribuo no dia de Cosme e Damião. A esmagadora maioria das namoradas, ficantes, rolos, amantes e casos, eu conheci por lá, sem falar na Dona Patroa. Embora eu tenha crescido ali no asfalto, os morros estavam à minha volta, como o Cajueiro, a Serrinha e o São José. Em todos eles eu já fui e, em todos eles, eu tenho amigos. Estes tomaram os mais variados rumos na vida, e mesmo alguns, não vou mentir, fizeram escolhas que lhes custaram a liberdade e até mesmo a vida. Se alguém vai julgá-los, certamente não serei eu.
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Diante disso, num bizarro exercício de imaginação, tento prever a minha reação diante de algum formador de opinião qualquer que, com ar professoral, insinuasse que eu não deveria andar ali por Madureira, sabe como é, para "preservar a minha imagem". Imagem de cu é rola, é o mínimo que ele ia escutar como resposta.
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O fato é que eu procuro me pôr no lugar dos caras. Que, bem ou mal, têm cumprido o seu papel, que é o de fazer gols pelo Flamengo, mesmo que não tenham mostrado um futebol exuberante nas últimas partidas. Desejo que eles encontrem a paz necessária para fazer o seu trabalho e repetir lances como a fuderosa tabelinha contra o Americano em que eles puseram sozinhos o outro time inteiro na roda. De longe, o melhor momento dos dois esse ano. E de minha parte, só compro jornais que os traga na capa se eles estiverem em campo, vestindo a camisa mais bonita do mundo e fazendo gols.
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9 comentários:

Cris Medeiros disse...

É o preço da fama! Quem compra vem o pacote completo, muito dinheiro e pouca privacidade! Todas nossas escolhas tem um preço!

Beijocas

Paulo Bono disse...

Eu tô cagando pro que falam.
Acho que eles também.
Eu quero é ver gol.
Gol do Flamengo.

abraço

Maris Morgenstern disse...

Não entendo nada de futebol,
mas sabe q concordo contigo... afinal, o q nós chamamos de morro, eles chamam de casa né...
abraços amigo ogro

Jade disse...

Concordo com a Dama, é o preço da fama, não dá pra ter uma coisa sem perder a outra!!
Mas eu acho, embora eu também falhe de tempos em tempos que não se deve levar problemas pessoais pro trabalho, e o que eu vejo nessa geração de jogadores de futebol são apenas caras mimados que a quem qualquer coisa abala...
Eu que sou da geração Copa de 70 e também flamenguista, vejo essa diferença!!

Juliany Alencar disse...

Putz, esse é um assunto delicado. Eu também acho que os caras têm o direito de ir para onde quiserem. Mas, quando se opta por uma vida pública, logo se sabe que tudo que você fizer não estará longe das lentes dos fotógrafos e das capas de jornais.Portanto, não dá para ficar chateado com os boatos que surgirem depois.

É por essas e outras que sempre digo que não gostaria de ser famosa!


Beijos


www.mulherzinhasim.blogspot.com
www.formspring.me/mulherzinha

Sâmia disse...

Ninguém sabe quais os limites entre o que é público e o que é privado. Esses limites já não existem mais. Infelizmente.

Sâmia disse...

Ogro, estou com saudades! Não há nada de novo no pântano???
Beijos

Miss X disse...

Ogro, cadê vc?!
Até o Shrek já apareceu novamente e vc continua sumido!

Arthur Rotta disse...

POis é ogrão, quando volta a escrever?? tu faz falta na bloguesfera

Abraços